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Foto do escritorMarcelo Duarte

PANORAMA DE MERCADO - Outubro/2020

Viemos por meio desta carta clarear pontos relevantes dos últimos acontecimentos do mercado. O cenário atual pode parecer um pouco nebuloso para alguns investidores e gostaríamos de compartilhar nossa visão.


Em setembro, os mercados interromperam a sequência de cinco meses consecutivos de forte recuperação. O receio sobre uma possível segunda onda de coronavirus, negociações de estímulos fiscais pelo mundo e incertezas quanto ao resultado da eleição americana são pontos que permeiam os mercados globais. Aqui nessa carta vamos falar principalmente sobre acontecimentos no cenário brasileiro.


Com a chegada do coronavirus, o Brasil adotou medidas para evitar maiores impactos na saúde pública e na economia. Para isso, foi necessário que o país gastasse muito mais dinheiro do que era previsto em suas diretrizes orçamentárias. Foram adotadas medidas como o auxílio emergencial, auxílio na folha de pagamento das empresas, financiamento de empréstimos emergenciais subsidiados, entre outros. Este tipo de medida possui custos envolvidos que eventualmente devem ser pagos.


O que acontece com uma empresa que gasta mais do que produz? Palavras como falência, insolvência, dívidas, etc. vêm à cabeça. A gestão de um país anda em uma linha parecida, não é nada interessante gastar mais do que produz, déficits recorrentes são preocupantes. Ainda mais quando falamos de países historicamente mal geridos e com dificuldade de crescimento. Imaginar algo como um default (termo utilizado para falência) é difícil, porém jamais impossível. Esse cenário foi algo recentemente visto na Grécia e na Argentina, com o não pagamento de dívidas soberanas desses países.


O Brasil caminhava para uma melhor organização das contas públicas. Um dado simples que podemos analisar é do Déficit Primário. Ele acontece quando um país gera menos recursos (arrecadação) do que gasta em um determinado período (despesas). Dito isso, saímos de um déficit em percentual do PIB de aproximadamente -1% no final de 2019 para atuais -9%.


Organizar as contas públicas leva a uma redução do custo da dívida soberana, por consequência, com menos dívida para pagar, o país tende a ter mais recursos livres para investir.


Historicamente, commodities são o ponto forte das exportações brasileiras. Isso permitiu com que o país fosse beneficiado por um forte movimento de alta nos preços no período do ano de 2000 até 2014. Movimento que ficou conhecido como o boom das commodities pela alta demanda de alguns países, em especial a China, que beneficiou, além do Brasil, nações africanas e outros países da América do Sul por serem grandes exportadores. Esse movimento colaborou para que a dívida pública do Brasil representasse 30% do PIB no início de 2014.


Os anos seguintes mostraram uma maior intensidade no aumento da dívida pública do Brasil, fazendo com que, após políticas fiscais adotadas para combater o coronavirus, nossa dívida pública líquida represente aproximadamente 61% do PIB.

Todos os pontos anteriormente citados refletem no risco de um país, no mercado financeiro, além da análise dos números, é possível analisar através do CDS (Credit Default Swap). Em grande resumo, ele funciona como um parâmetro de qualidade de um ou mais emissor de títulos, refletindo o risco de crédito enxergado sobre determinado país. Todas as incertezas e turbulências econômicas e políticas de um país são refletidas no CDS, no Brasil não é diferente.


Com o grande aumento da dívida pública, era visto mundialmente um maior risco de crédito no Brasil no final de 2015 e no começo de 2016, risco esse que começou a ser diminuído com a melhoria do déficit primário e menor intensidade do aumento da dívida soberana.


A chegada do coronavirus trouxe grande turbulência fiscal ao Brasil e, por consequência, refletiu no risco de crédito enxergado em nosso país, fazendo com que os níveis de risco do país voltassem para níveis de 2015.


Como isso refletiu nas carteiras de investimentos?


Um grande destaque do mês de setembro foi a rentabilidade negativa do Tesouro Selic, investimento que é visto como o mais conservador do país. A dúvida de alguns investidores era entender o porquê do investimento “risk-free” ter fechado o mês com a rentabilidade de -0,46%, sendo a primeira vez que isso acontece desde 2002.


A LFT (Letra Financeira do Tesouro), também conhecida como Tesouro Selic, é um título que o investidor, ao realizar a compra, empresta dinheiro ao governo em troca de uma rentabilidade, nesse caso, uma rentabilidade pós-fixada (só saberemos a rentabilidade no final porque o retorno do título irá acompanhar as variações da Taxa Selic) de 100% da Selic acrescido de uma pequena parcela pré-fixada.


A situação fiscal do Brasil fez com que fosse exigido um prêmio maior pelo risco de comprar títulos de um país com tantas dívidas e turbilhões políticos. Na medida em que é exigido uma taxa maior pelos títulos brasileiros, simultaneamente, existe uma pressão contrária no preço desse título, gerando um deságio em seu preço.

Esse movimento levou a desvalorização não apenas do Tesouro Selic, mas também de diversos fundos de renda fixa e multimercados que possuem esse papel em carteira. A boa notícia é que caso o investidor não resgate o seu título do tesouro, quando esse movimento de pressão negativa no preço parar (o que é impossível saber quando) sua rentabilidade será maior do que estava acostumado a enxergar em seu extrato, é o que chamamos de “carrego”. Nesse caso para simplificar, vamos imaginar uma gangorra. Quando há uma pressão negativa no preço do título, automaticamente será ofertada uma taxa maior para os investidores. Em uma situação que houvesse pressão positiva no preço do título, uma taxa menor é ofertada. Cenário esse que seria de um possível menor risco de crédito do Brasil.

Apesar disso tudo, a lógica não mudou, ao olhar para a reserva de emergência deve-se sempre prezar por dois pilares, liquidez e segurança. O Tesouro Selic e suas derivações continuarão sendo uma alternativa para a reserva de emergência, apenas sempre deveremos ter em mente que não existem investimentos totalmente livres de riscos.


Marcelo Duarte, Assessor de Investimentos.
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